domingo, 23 de abril de 2017

GILDO E HELENA "Bendita estrada de Damasco". texto de Helena Machado


                Continuando, Gildo responde a carta de sua esposa. Nela ele mostra seu lado sonhador e quem sabe intuitivo, contando a estória de uma vida vivida no ano de 1717, que deu nome ao meu primeiro livro editado em 1999, um ano após seu falecimento.
"Bendita estrada de Damasco"

             Minha querida Heleninha,
              Sua carta está disputada e lida por todos aqui - uma obra prima. Eu confesso que li e chorei. A noite reli e fiz a minha prece.
            Já 36 anos de casados este mês. Momentos cheios de estrada de Damasco, com você ali ao meu lado me fortalecendo. Quero lembrar também que  nunca estivemos tanto tempo separados. Como recordar é viver, assim diz a canção: Lembras? O ano era 1717, eu um português muito safado (narcisista, bonito para você). Sacristão da igreja em Guarapari. Você uma puri (índia) muito católica, que eu tirei toda a sua crença e nada tinha para por em seu lugar. Eu gostava de vinho de missa, o qual eu roubava na igreja; você vinho de pitanga que nós mesmos fazíamos, ainda me lembro da receita:
  • 1 martelo de cachaça
  • 1/2 coifa de água
  • 2 colheres de açúcar
  • 1 litro de pitanga
10 dias fermentando, coava e pronto.
Levamos uma vida na flauta.
FIM
                Aqui estou vendo uma garrafa de champanhe na prateleira "Chuva de Prata", o narcisista português irá levá-la para o apartamento do Rio. 
Ainda recordando da nossa lua de mel, no Rio, Casa de Saúde São José, da nossas Bodas de Prata, no mesmo tempo que recebia uma intimação para em 4 dias fazer um pagamento de uma fortuna que era todo o nosso patrimônio. Da facada em Guarapari e no leito do Hospital São Lucas , em Vitória, na UTI da Casa de Saúde São Pedro onde todas as manhãs você aparecia no visor sorrindo para mim. Nos seus olhos eu via tristeza. Neste local em cima da parede aparecia não sei se polichinelo ou pierrô todo colorido dançando e rindo para mim - queria me alegrar.
           Ainda não, mas um dia iremos nos alegrar e dizer: "Bendita Estrada de Damasco" minha querida Heleninha.
          Eu te amo
        1000 beijos do seu
         Gildo
Cachoeiro, 08.07.92

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