Asscom/Sesa
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O jovem Elias está reaprendendo a andar depois de sofrer um acidente num pula-pula e lesionar a medula espinhal. |
A Unidade de Trabalho de Internação do
Centro de Reabilitação Física do Espírito Santo
(Crefes) é um lugar cheio de histórias. À
primeira vista, todas muito parecidas.
Encontram-se ali pessoas que sofreram grandes
lesões cerebrais, medulares e ortopédicas e,
por isso, perderam o movimento de alguma
parte do corpo. Mas com poucos minutos de
conversa, cada caso revela-se particular, porém,
une-se um ao outro pelo otimismo dos pacientes
e pela dedicação dos profissionais.
Não faz nem um ano que o estudante Elias
Aparecido Silva Gomes de Souza, de Marataízes,
sul do Espírito Santo, estava brincando com
amigos num pula-pula quando caiu de mau jeito
e não conseguiu levantar. Ele sofreu uma
lesão na medula espinhal que afetou o movimento dos membros superiores e inferiores.
“Fiquei um mês e um dia no hospital e depois um mês em casa. Eu chorava muito,
pensava que não ia voltar a andar. Eu levantava o braço e ele caía. Não tinha força”,
lembra o garoto, que tem apenas 18 anos.
Em processo de reabilitação no Crefes, Elias está reaprendendo a andar e a utilizar os
braços e as mãos. Segundo a fisioterapeuta Mariana Santos de Souza, ele faz exercícios
como agachamento com auxílio para fortalecer a musculatura do quadril e das pernas,
sobe e desce escada para treinar a marcha e pedala numa bicicleta ergométrica para
melhorar a resistência cardiorrespiratória e aumentar a resistência dos membros inferiores.
“A lesão que o Elias sofreu não foi tão extensa, por isso ele está conseguindo retomar
alguns movimentos. Por outro lado, o trauma causou uma fraqueza muscular generalizada
muito grande e esses exercícios são importantes porque o ajudam a ter força para ficar
em pé e andar por mais tempo”, detalha a fisioterapeuta, enfatizando que o
objetivo do tratamento não é, necessariamente, fazer com que o paciente volte a realizar
todos os movimentos como antes, mas dar a ele o máximo de capacidade funcional
possível dentro de suas limitações.
Segundo a terapeuta ocupacional Elem Guimarães, no início foi necessário engrossar o
cabo do talher para que Elias conseguisse comer sozinho, mas esse recurso já não se
faz mais necessário. Como as mãos dele tendem a se fechar por causa do
traumatismo raquimedular, atualmente o paciente usa uma órtese à noite para
prevenir deformidades e combater a rigidez da musculatura. O rapaz também faz exercícios
com peso para recuperar a força das mãos e treina a motricidade fina, ou seja, a
realização de movimentos precisos, como abotoar e desabotoar uma camisa, abrir
e fechar um zíper e escrever.
Com o auxílio da fisioterapia, de medicamentos e da terapia ocupacional, em pouco
tempo de tratamento o rapaz conseguiu retomar funções simples, mas extremamente
importantes para sua independência, como escovar os dentes, se alimentar, se vestir
sozinho e até deixar a cadeira de rodas de lado e fazer caminhadas com o auxílio de
um andador.
“Quando vim pra cá, meu astral começou a melhorar. Conheci pessoas com outros
problemas, vi gente sair daqui andando. Não existem profissionais melhores do que
esses. Eu estou treinando para ir pra casa praticamente andando. Quero melhorar o
máximo que eu conseguir”, diz Elias, que logo deve receber alta. Sempre com um sorriso
largo no rosto, ele demonstra otimismo e é um ombro amigo para outros pacientes
que ainda vivenciam as dificuldades das primeiras semanas do trauma, uma fase
que ele já superou.
O outro lado do trauma
A técnica de enfermagem Samantha Thalita Coelho Guerra, de 26 anos, sofreu um
acidente de trânsito no dia 20 de junho e sua vida mudou de ponta-cabeça. A jovem
conta que o carro em que ela estava desceu por um barranco e ela, que não usava
o cinto de segurança no momento, firmou as pernas no painel do veículo para
evitar ser arremessada para fora. “Quando o carro bateu na árvore, fui jogada para
baixo do painel. Fiquei sentada no chão, em posição fetal. Quando tentei voltar para o
banco, não consegui”, relata.
De acordo com o fisioterapeuta Renilson Lopes Pereira, Samantha sofreu uma
luxação nas vértebras L1 e T12. O trauma fez com que ela ficasse paraplégica, ou seja,
perdesse o movimento e a sensibilidade dos membros da cintura para baixo.
Após a alta hospitalar, ela foi para o Crefes, onde iniciou o processo de reabilitação.
Ela ainda sente dor, mas tem se dedicado a fazer exercícios para fortalecer os braços
e adquirir controle do tronco, além de alongamento de pernas para melhorar a
circulação sanguínea e evitar inchaços e outras complicações.
“Reabilitar é fazer com que o paciente viva bem com as lesões que ele tem. No caso da
Samantha, acreditamos que ela tem uma grande possibilidade de levar uma vida
normal, de dirigir, de conseguir sair da cadeira de rodas e ir para a cama sozinha,
enfim, de ter uma vida independente”, comenta o fisioterapeuta Renilson Lopes.
Para Samantha, viver uma experiência como essa não é fácil para ninguém, mas ela
acredita que, com o tempo, a pessoa encontra outros meios para viver e continuar
sendo feliz. “Você tem uma vida muito ativa e depois fica limitado. Quer fazer algum
movimento e percebe que o corpo não responde. Isso muda muita coisa na vida da gente.
Se você é egoísta e acha que não precisa de ninguém, acaba tomando um tapa. Você
aprende a dar valor até ao sol. Por isso eu acho que, se por um lado eu perdi,
por outro eu ganhei, porque adquiri experiência, sabedoria, paciência, ganhei amigos”,
comenta a jovem.
Apesar de estar em reabilitação há menos de um mês, Samantha já entrou para
o time de basquete do Crefes. Empolgada com as novas possibilidades, ela diz que
sente uma força de vontade extraordinária e continua com os mesmos sonhos
de antes. “Tentamos superar todos os nossos limites para melhorar. Continuo querendo
casar, ter filhos, um novo trabalho. Meu mundo não acabou, eu nasci de novo”, conclui.
O Crefes
O Centro de Reabilitação Física do Espírito Santo (Crefes) é referência estadual na
prestação de serviços de reabilitação física e auditiva tanto para crianças quanto
para jovens, adultos e idosos. O local oferece diferentes tipos de atendimento,
dentre eles reabilitação intensiva por meio de internação (Unidade de Trabalho de
Internação), oferta de órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção
e tratamento ambulatorial com diversas especialidades.
No caso da Unidade de Trabalho de Internação, apresentada nesta matéria, pessoas
que sofreram grandes lesões cerebrais, medulares e ortopédicas podem ficar
internadas por períodos de média duração. Segundo a diretora administrativa do
Crefes, Andrea Giacomin, o quadro desses pacientes exige um cuidado terapêutico
intensivo, por isso eles ficam internados.
Mas ela salienta que a internação no Crefes é diferente de uma internação hospitalar.
O paciente só pode dar entrada na Unidade de Trabalho de Internação para reabilitação
quando recebe alta hospitalar. E quando o paciente tem alguma descompensação em
seu quadro clínico, é encaminhado para o hospital e retorna ao tratamento quando
estiver recuperado.
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