terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O SANGUE FERVEU - CASAMENTO DE UMA BRIMA LIBANESA.

Como de costume, costumo fazer um exercício de ir olhando no meu entorno as pessoas e paralelamente ir fazendo um exercício mental, sobre a origem étnica das pesoas. Não raro pergunto. Um exercício saudável e que tenho como rotina. No casamento de Patricia Raula Sassine e Gustavo Henrique Schneider na Igreja Batista da Praia da Costa, Vila Velha, no dia 7 de junho, cheguei um pouco mais cedo e fui olhando as pessoas que iam chegando, ficava imaginando, quem eram e quantos seriam de origem libanesa. Reconheci alguns, mas a grande maioria ficou sem uma definição.
O meu relacionamento é com a família de Patricia, que no ano de 2001 esteve no Líbano com um grupo de descendentes e lá estavam meus filhos Augusto e Vinicius. Pelo lado do Gustavo não os conhecia.
Na cerimônia do casamento o pastor fez a sua parte de forma competente. Encerrada a parte religiosa e já chegando às dez horas da noite, estávamos a caminho da recepção, que aconteceu em Vitória. Lá o meu olhar em busca dos patrícios libaneses conseguiu identificar mais alguns. É sempre um prazer encontrá-los e uma pequena conversa vamos entrando no clima. É assim que sinto quando encontro com brimos e brimas. 
Pouco antes da meia noite, com o salão repleto, mais de 500 pessoas, com um serviço de perfeito, a música eletrônica dá lugar a voz cantando em árabe, que anima e envolve boa parte dos presentes. Logo em seguida ao canto em árabe que encheu todo ambiente, percebo que a colônia libanesa presente era bem maior que imaginava. Uma grande roda se forma e Patrícia e Henrique comandam a alegria. O cordão aumenta a cada instante. 
Não entendia nada do que o cantor pronunciava, mas tinha certeza e convicto de que eu estava voltando para a terra sagrada de meu avô paterno, Francisco Marolino Mansur. Um retorno para Aalma Zgharta, nas montanhas no Norte do Líbano.
Eu que sou muitos zeros à esquerda no que diz respeito a ritmo músical e dança, me vi como que empurrado ou puxado para o grupo de dançava. Uma sensação diferente e de difícil explicação: estava a rodar com os brimos e brimas ao som universal da música e na voz cantando em árabe. A música é realmente uma coisa mágica e envolvente, ela penetra fundo.
Viver este momento foi como fazer uma viagem imaginaria sem bilhete, não apenas com a vontade de participar da festa, um pouco mais: um renovar no compromisso moral que tenho com a jornada de meu avô, que saiu da sua aldeia, nas montanhas do Norte do Líbano, em busca do desconhecido na distante América, no Brasil, no Espírito Santo e em inúmeras localidades do centro sul do Espírito Santo. Compromisso de trabalhar no que sempre trabalhei, na escrita, fazendo registros da epopéia de uma gente heróica.
Um brimo me aborda dizendo que no outro dia, no domingo estaria viajando para o Líbano, onde ficaria por trinta dias visitando os seus parentes e sua aldeia. Um trajeto que fazem com naturalidade nos dias de hoje, mas que no passado, os primeiros imigrantes eram impossibilitados de fazer: por falta de transporte e também por falta de numerário para custear o sonho de retornar, mesmo que seja por um tempo contado em dias. No final da nossa conversa fiz com uma criança carente e lhe fiz um pequeno pedido: me traga uma bandeira do Líbano.
Já chegando duas da manhã, a caminho de casa, segui a minha viagem solitária e pensado: nunca havia entrado no clima de dançar e dividir com os brimos e brimas a alegria e o orgulho de ter uma parte de mim vindo de onde veio, tenho plena certeza que minha alma veio de lá, do Líbano. Um momento único havia acabado de participar. Uma alegria de encher o espírito num simples gesto de tentar dar alguns passos na dança milenar dos libaneses.
Eliane, minha esposa fez uma afirmação e uma indagação. A afirmação: eu nunca vi você ficar até o final de uma festa e expressando alegria. A indagação: depois você poderia perguntar ao William e a Ercília se eles têem mais algum filho ou filha para casar?
Realmente, no final do dia 8 e início do dia 9 de junho de 2012, o sangue ferveu, como dito no título deste texto.

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