A Revista “Espírito Santo Agora”, em reportagem do ano de 1979, descreve o percurso da Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo, que fazia o transporte de passageiros e mercadorias da cidade de Vitória aCachoeiro de Itapemirim: “Duzentos quilômetros de trilhos que cortam pontes, túneis escavados naspedras, rios, matas e precipícios é o que pode nos oferecer uma viagem a Cachoeiro pela estradaLeopoldina”. O trajeto demorava em média 10 horas para ser realizado, porém, segundo a publicação, a própria lentidão do trem auxiliava um melhor desfrutar de toda a variedade paisagística que a linhaoferecia.
Esse e outros documentos do acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES) permitemcontar a história da ferrovia que há mais de um século faz parte do cotidiano, dos embates políticos eda economia capixaba. O empreendimento esteve sob jurisdição estadual dos anos de 1892 – início daconstrução - até 1907, quando o controle foi transferido à Leopoldina Railway. A região pela qual passacorresponde hoje aos municípios de Vila Velha, Cariacica, Viana, Domingos Martins, Marechal Floriano, Alfredo Chaves, Vargem Alta e Cachoeiro de Itapemirim.
O tombamento da ferrovia como patrimônio histórico está sendo discutido pelo Governo do Estado,prefeituras municipais, lideranças e as comunidades. Em uma audiência junto à Agência Nacional deTransportes Terrestres (ANTT), na próxima terça-feira (27), em Brasília, serão apresentadaspropostas. Na ocasião, um documento sobre a importância da ferrovia para o Espírito Santo seráprotocolado.
História
Por meio do trabalho de Leandro Carmo Quintão, na dissertação de mestrado “A interiorização dacapital pela Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo”, é possível apreender o histórico da construção e asmotivações para a sua realização. Segundo o autor a gênese do projeto era “(...) transformar Vitóriaem uma importante praça comercial para a região através da ligação de seu porto com o interiorcapixaba e mineiro”.
Leandro destaca que a implantação de vias férreas no Estado esteve estreitamente atrelada ao café.Os primeiros planejamentos e projetos de ferrovias no Espírito Santo remetem à década de 1870,porém, não obtiveram sucesso. Foi no Governo de José de Mello Carvalho Moniz Freire que foiinaugurado, em julho de 1895, o primeiro trecho ligando o Porto de Argolas, em Vila Velha, a Viana.
Nos governos posteriores as obras tiveram continuidade, sendo interrompidas diversas vezes porproblemas econômicos, divergências políticas e dificuldades relacionadas à mão de obra. Após ainauguração em 1902 das estações de Araguaia e Engenheiro Reeve a construção foi paralisada, sendoretomada apenas com a incorporação da companhia pela Leopoldina Railway em 1907, empresa estaformada em 1898 por credores ingleses da Estrada de Ferro Leopoldina. A alienação doempreendimento provocou intensos debates, que chegaram até a esfera do Congresso Nacional.
Leandro explica que a obra terminou oficialmente em 1910, após a finalização das estações deEngano, Guiomar, Vargem Alta e Sortuno. O Espírito Santo, a partir de então, teve quase 500quilômetros de ferrovias, sendo aproximadamente 160 correspondentes ao Ramal Sul. Nas palavras doautor: “O fato de o primeiro projeto ferroviário ter se materializado na Região Sul capixaba não se deupor acaso. Ao longo da segunda metade do século XIX, essa área passou a se destacar pelocrescente incremento na produção cafeeira, produto esse que, em conformidade com tais valores,consolidava-se como o líder absoluto na pauta de exportações e respondia pelos primeiros saldospositivos na receita provincial”.
Atualmente o Ramal Sul faz parte da companhia particular Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) e muitostrechos estão desativados.
Imigrantes
Um dos maiores entraves para a construção da ferrovia foi a necessidade de mão de obraespecializada. Por isso, vieram ao Estado imigrantes estrangeiros para a realização dos trabalhos.Documentos do acervo do APEES, pertencentes ao Fundo Governadoria, mostram a troca decorrespondências entre o Governador Moniz Freire e o cônsul italiano no que se refere ao nãocumprimento do contrato e à cobrança do pagamento dos operários. De acordo com informações do“Projeto Imigrantes”, 861 pessoas atuaram na implantação da estrada de ferro, a maioria homenssozinhos, que chegaram ao Brasil nos anos de 1895 e 1896. Destes, 849 eram italianos e 12portugueses.
Informações à Imprensa: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo Jória Motta Scolforo 3636-6117 comunicacao@ape.es.gov.br
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