A feira orgânica de Vila Velha completou seis
no dia 19 de março, 2011. Certamente que muitos que a freqüentam tem plena
consciência de que estão comprando frutas, verduras e legumes de alta
qualidade. Produtos limpos do ponto de vista de resíduos dos venenos usados nas
lavouras. Sabem que vão comer um alimento de verdade, um alimento para a vida.
Mas o grupo que sabe como foi a luta dos feirantes até o dia de hoje, é pequeno
e restrito.
Os agricultores de Santa Maria do Jetibá e Iconha, que estão do outro
lado da banca merecem o reconhecimento pelo trabalho que realizam e pelos
produtos que nos fornecem, puros e limpos de agrotóxicos. Sou grato a eles que chegam pela noite de
sexta-feira e dormem debaixo das barracas. No sábado, bem cedinho iniciam a
comercialização. Vida de trabalho. Por isto vou agradecer sempre.
Mas nesta data quero fazer uma viagem ao passado, não muito distante,
mas o necessário para não esquecermos. Falo do início do processo que resultou
no atual estágio da agricultura orgânica no Espírito Santo. Tenho de fazer uma
viagem de pouco mais de 130 quilômetros, sentido sul do Estado, indo até
Cachoeiro de Itapemirim. Foi lá que tudo começou no ano de 1985, quando a
Prefeitura local (administração Roberto Valadão) e pela condução competente do
agrônomo Nasser Youssef Nars montou o que logo ficou conhecido como Hortão
Municipal.
Centenas de agricultores foram lá para conhecer o que era produzir em
escala comercial e com elevada produtividade verduras, folhas e frutas sem o
uso de produtos químicos e venenos pesticidas. Era a agricultura natural – que
retirava produção da natureza, mas fazendo a menor agressão possível.
Um grupo especial de produtores frequentou
com constância o Hortão e de lá tirou ensinamentos que carregam até hoje. O conhecimento
absorvido passou a constituir um bem patrimonial, porque foi passado para os
filhos e para as comunidades. Falo das excursões que a Igreja Cristã Evangélica
de Confissão Luterana (ICLEB) promoveu para os seus membros. É bom lembrar que
nos anos 80 quem falasse em agricultura orgânica era discriminado e tido como
um tolo sonhador. Assim procediam muitos agrônomos e dirigentes de empresas
ligadas ao Governo Estadual. O tempo passou e muitos dos algozes do passado
hoje pensam e agem de forma diferente. Melhor assim.
Por isto que nas manhãs de sábado ao percorrer as barracas da Feira
Orgânica da Praia da Costa, faço uma viagem sentimental, mas cheia de fatos,
histórias e pessoas. Penso nas ações concretas de pessoas no passado. Desta
forma, o pensamento segue no sentido de Cachoeiro de Itapemirim, bairro
Aeroporto, onde ficava o Hortão, mais tarde Centro de Agricultura Natural
Augusto Ruschi. Ao agrônomo Nasser Youssef Nasr, a nossa gratidão e
reconhecimento. Hoje o Hortão não existe mais, fruto da ignorância e da vaidade
de pessoas que não sabem reconhecer o trabalho dos outros.
Mas vamos voltar a feira orgânica da
Praia da Costa, ponto de compra de produtos de qualidade, também ponto de
encontro de amigos e amigas que estão no corre corre da vida durante a semana.
No sábado com um ritmo menos acelerado, colocam as conversas em dia e mais
tarde vão almoçar uma comida de verdade. Viva o Hortão de Cachoeiro de
Itapemirim.
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