sexta-feira, 7 de junho de 2013

MANIFESTO DE ARTE, ECOLOGIA E AÇÃO POLÍTICA. Kleber Galveas


Dia 9, próximo domingo: será um dia especial nos 34 anos de atividades do nosso Ateliê na Barra do Jucu.
Gostaria muito de contar com você.
As 10H mostraremos no nosso Ateliê, vídeos e todas as telas desenhadas com o dedo, ao longo dos 17 anos do projeto A VALE, A VACA E A PENA.
As 12H tocaremos congo com amigos na Praça da Barra do Jucu, e ajudaremos a colher assinaturas para viabilizar o partido # Rede, liderado por Marina Silva.
Não se trata de compromisso ideológico, nem de filiação partidária. O convite é aberto a todos.
Quem quiser colaborar com a criação do partido #Rede, traga o título de eleitor para assinar o manifesto. Precisamos reunir 500 mil apoios de cidadãos brasileiros.
Um forte abraço do
Kleber
VALE UMA HOMENAGEM.
A empresa que mais contribuiu para o crescimento econômico do Espírito Santo foi a Vale do Rio Doce. O início de suas operações, no nosso Estado, aliviou um grande problema. Naquela época nossas cidades inchavam, com o abandono do campo, devido à queda do café (ES, MG e RJ) e a quebra do cacau (Sul da Bahia).
O complexo siderúrgico e empresas que surgiram em seu entorno, capitanearam a transição para a atividade industrial no ES, minimizando o desastre na agricultura. Embora o governador Cristiano Dias Lopes, na época, afirmasse: “A Vale só deixa para os capixabas o apito do trem”; em seu governo iniciou-se um crescimento sem paralelo da nossa economia (inexpressiva e monótona desde o séc. XVI).
Até 1960, Vila Velha possuía apenas torrefação de café, fábrica de tamancos, marcenaria, fábricas de prego, biscoito, guaraná, sabonete, bala e chocolate. O comércio se restringia aos bares e armazéns de secos e molhados. O porto de Paul e o Pela Macaco eram considerados de Vitória. Não havia nenhum restaurante, só o hotel Tabajara. Um único salão de beleza cuidava das unhas e cabelos, das damas de Vila Velha, que se restringia à Prainha e Inhoá. Os dois distritos mais populosos eram Argolas e Barra do Jucu. Nas areias da Praia da Costa víamos mais vacas tomando sol do que banhistas. Tudo cresceu. Ficamos adultos de repente.
A transformação de Vitória se irradiou, de forma acelerada, para todo território capixaba. Até então, “lugar de toda pobreza“.
Durante sua fase estatal, a Vale era muito questionada quanto ao valor da tonelada de minério exportado. Quando Hilal inaugurou sua galeria na Praia do Suá, no princípio dos anos 70, Guilherme Minassa apresentou uma interessantíssima instalação: um serviço de chá em fina porcelana inglesa, sobre mesa forrada com toalha de linho e tudo abarrotado de minério de ferro. Hoje, com a Vale privatizada, os valores do minério sendo reajustados (100% + 15%, com o aval da China) representam uma conquista significativa da empresa, cobrada na instalação do artista há 35 anos. Guilherme, atualmente, é jornalista em Belo Horizonte.
Bem encaminhado o problema do valor do ferro, resta resolver o da poluição e os decorrentes do aumento espetacular da população de novos capixabas. Toda atividade inicial de qualquer empresa traz muita gente. Isso é agravado com a sua expansão, pois consolida a idéia de saúde e vigor financeiro na área. A demanda por serviços públicos se multiplica, exigindo enorme esforço politico de quem a hospeda.
Quando da primeira edição do projeto A VALE, A VACA E A PENA (1997) realizei, na primeira sala da minha galeria, uma homenagem à Vale. Exibi desenhos do artista Stanislaw Warchalowiski, funcionário aposentado da empresa, mostrando operários assentando trilhos, feitos enquanto ele trabalhava na locação da Estrada de Ferro Vitória a Minas. Estes desenhos, em bico de pena, logo após esta exposição, foram doados à Vale, pela família do artista. Integram o acervo do Museu Ferroviário, onde figuram com destaque, pois são ali documentos únicos, no gênero artístico.
O jongo de congo, “estimamos nossa empresa/ que abastece o mundo/ resolvendo o problema/ o amor será profundo”. Continuará sendo cantado: É oportuno. Da nossa maior empresa, que tanto nos impressiona, esperamos o melhor exemplo de sustentabilidade.
Homenagem, quando foi instituída na corte francesa, era uma cerimônia em que o homenageado se comprometia a empenhar a própria vida, na defesa de quem o distinguia. Quantas homenagens a Vale já recebeu dos capixabas?
Kleber Galvêas – pintor  Tel. (27) 3244 7115   Texto publicado em abril de 2006
Mais textos sobre este assunto? Visite o site do Ateliê. Clique aqui: www.galveas.com  

SOMOS COBAIAS?
Desde Charles Darwin, naturalista inglês que pesquisou no Brasil e publicou “A Origem das Espécies” em 1859, sabemos que mudança no meio ambiente pode determinar fracasso de uns e sucesso de outros seres vivos.
O fumo foi disseminado pelo mundo quando da descoberta da América. Entretanto, muito antes disso “fumamos” compulsoriamente, do nascimento até à morte. Há cerca de 800 mil anos, 50 mil gerações passadas, o homem dominou o fogo e convive com a fumaça. Durante os longos períodos glaciais, que ocorreram desde então, e que duravam aproximadamente 10 mil anos, essa convivência foi bastante estreita. Quem não resistia à fumaça da fogueira, eternamente acesa dentro da caverna pouco ventilada, morria. Uma seleção se processou. Essas fogueiras, feitas com diferentes materiais combustíveis, produziam, algumas vezes, fumaça ainda mais tóxicas que o fumo. A nicotina estava presente pois é encontrada em quase todos os vegetais, que dependem dela para sua defesa contra fungos e parasitas diversos. Daí o uso do fumo de rolo, pelos nossos agricultores, na composição das caldas caseiras utilizadas no combate às pragas das plantações.
São dramáticas as histórias sobre os mineradores de enxofre, na Roma Antiga, e do carvão, na Revolução Industrial. Os coletores de sal de Macau, RN, têm seu drama contado por José Mauro de Vasconcelos, em “Barro Blanco”. A silicose, que liquida os trabalhadores nas pedreiras, em permanente contato com a sílica, é fato comprovado.
Sempre que há exagero na exposição a um produto, existe risco; representa desequilíbrio ecológico; é mudança no nosso meio ambiente.
Toda a Grande Vitória e alguns municípios do interior vivem dentro de uma calota, ou redoma, com ar saturado de partículas de ferro e de minério de ferro, com diferentes dimensões. Quanto mais distantes da fonte emissora, menores e mais perigosas são as partículas que respiramos. O tamanho dessa calota pode ser percebido usando-se óculos de camelô, que tenha lentes avermelhadas, e olhando-se para o horizonte sobre o mar, onde é mais distante. Sua composição pode ser pesquisada, em nossas casas, varrendo-se a poeira que nos chega todos os dias, para uma folha de papel, passando-se um imã (desses que enfeitam geladeiras) por baixo da folha. Faça você mesmo essa experiência.
Quando assistimos à violência das ações do governo contra o tabagismo (opção individual que requer investimento) e a sua atuação quanto à poluição atmosférica (que atinge a todos) ficamos confusos com esse desequilíbrio ou desvio ético.
Somos a primeira geração a viver neste ar saturado de ferro. Cobaias desprezíveis: as nossas Universidades não pesquisam; o Governo vem autorizando duplicações das empresas poluidoras da atmosfera, que não resolveram os problemas que criaram; oposição e situação estão felizes com as contribuições às suas campanhas eleitorais; as associações ecológicas agradecem patrocínios; médicos, principalmente otorrinolaringologistas, alergistas e pneumologistas, parecem satisfeitos com seus consultórios lotados; juristas dormem o sono dos bem assalariados; artistas, cientistas, religiosos, operários, estudantes e donas de casa, se calam seduzidos pela propaganda, por conveniência ou ignorância.
Infelizmente não existem assombrações e cobaias mortas não falam, embora estejam se remexendo em suas covas.

Kleber Galvêas, pintor. Tel. 3244 7115     www.galveas.com   Publicado em abril de 2005  

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