quinta-feira, 9 de maio de 2013

Saúde reforça tratamento de portadores de hepatite B e C em Vila Velha



Texto: Emerson Cabral / Foto: Camila Vargas

Servidora da Saúde - Imagem: Camila Vargas
A contratação de uma médica gastroenterologista a partir de janeiro deste ano reforçou o Programa Municipal de Controle de DST/AIDS em Vila Velha. A doutora Daniela Aragon Caser (foto) atende aos pacientes contaminados com hepatite B e C.
O programa tem como objetivo principal prevenir a contaminação da população das chamadas Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), além de oferecer assistência às pessoas vivendo com DST, HIV/AIDS e Hepatites Virais.  A equipe médica agora tem uma infectologista, dois infectologistas pediatras, uma ginecologista e a gastroenterologista.
Confira a entrevista com a médica Daniela Aragon Caser:
 

Desde janeiro o programa DST/Aids de Vila Velha conta com o seu trabalho. Como ele está sendo desenvolvido?

Estou investigando os pacientes de hepatite B e C, vendo o grau de acometimento do fígado com os exames preliminares. Nós também estamos contando com os exames de carga viral e a genotipagem do vírus da hepatite para então começar o tratamento dessas pessoas.

Qual a diferença entre as hepatites B e C?

Todas as duas são doenças sexualmente transmissíveis, porém a hepatite B é transmissível mais pela via sexual, mas também pode ser por contato com ferimento ou secreções. A hepatite C é mais comum em pessoas que fizeram transfusão de sangue ou foram contaminadas por alicate de unha, lâmina de barbear, aplicação de piercing ou em tatuagens. O vírus da hepatite C só foi descoberto em 1987, então antes disso não se fazia a investigação do sangue para esse vírus nas transfusões de sangue. Daí que muitos portadores do vírus C foram contaminados em transfusões e não ficaram sabendo à época. Agora, com a larga divulgação dos testes rápidos das doenças sexualmente transmissíveis, estamos conhecendo mais quem são os portadores da hepatite C. Quando o resultado de algum destes testes dá positivo nós fazemos uma investigação mais profunda, com as sorologias de hepatite, com toda a bioquímica hepática, para ver se está alterando a função hepática. Depois fazemos a avaliação da carga viral para o caso de hepatite B e a genotipagem  para o caso do vírus C. Só então é que se inicia o tratamento.

O que a hepatite causa no organismo?

Tanto a hepatite B quanto a hepatite C podem causar a cirrose hepática, que é uma doença grave que leva à morte. Também provocam a hipertensão portal, que é a formação de um sistema colateral na veia porta, que aumenta e dá varizes de esôfago, hemorragias digestivas, a conhecida barriga d’água. Sem falar no câncer de fígado. Na hepatite B o mais comum é o hepatocarcinoma, que a gente precisa fazer a investigação de seis em seis meses nos portadores desse vírus.

As hepatites são consideradas doenças silenciosas?

Os portadores de hepatite podem ficar anos e anos, 20, 30, 40 anos com a doença em estágio latente. Nos alcóolatras ela pode se manifestar mais rapidamente devido o uso da bebida. Por isso esses pacientes não podem beber de forma alguma, por que isso agrava a doença.
O ideal então é que todos façam os testes para saber se são portadores de hepatite?

Não só hepatites, como HIV e sífilis, não nos esquecendo das pessoas que mantém relações sexuais com esses pacientes. Todos eles precisam ser investigados, inclusive familiares como cônjuges e os filhos. Os vírus das hepatites também são transmitidos verticalmente no parto.

Um teste por ano é o suficiente?

Sim, um teste por ano, além da prevenção. Todo mundo sabe que a prevenção é através do uso de camisinha, não ter múltiplos parceiros sexuais, não fazer o uso compartilhado de drogas injetáveis, não compartilhar lâmina de barbear ou alicates de unha. Os estúdios de tatuagem e os salões de beleza, que oferecem serviço de manicure, são vistoriados pela vigilância sanitária e usam o autoclave para fazer a esterilização dos equipamentos, mas o ideal é que cada um tenha o seu material. Eu recomento que as pessoas que façam manicure levem o seu próprio instrumento. Quanto mais prevenção melhor.
É comum pacientes com hepatite também serem positivos para outras doenças sexualmente transmissíveis?

Sim, por que são as mesmas vias de transmissão. Tanto HIV como hepatite B e hepatite C são sexualmente transmissíveis sem a precaução, sem o uso de preservativos. São os chamados pacientes de coinfecção. Esses são pacientes mais difíceis de tratar, são pacientes mais graves já que as drogas são pesadas e os efeitos adversos são grandes, então dá bastante trabalho para acompanhá-los. Eu tenho observado que é preciso mostrar aos jovens o que nós vivemos no passado e mostrar que isso só está controlado quando o paciente segue à risca o uso dos coquetéis de drogas, senão ele vai morrer de Aids. Existe um controle maior hoje em dia, mas a doença está aí, ela está ativa e pode ser transmitida.  A hepatite tem um tempo de tratamento, cerca de seis meses a um ano, mas no caso do HIV é para a vida toda.
O tratamento traz a cura para as hepatites?

Cerca de 80% dos pacientes que adquirem o vírus da hepatite B desenvolvem anticorpos, sem tratamento e acabam curados. Aqueles 20% se tornam portadores inativos. Tem a doença, mas a carga viral é baixa. Os que têm carga viral elevada com alteração do fígado, nós precisamos tratas. Mas, tem aquele grupo ainda que vai ser não responsivo ao tratamento. Estes precisam de atenção redobrada.
 

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